Cada ser possui e vive em um corpo singular. Possui maneiras de afetar outros corpos que são únicas. E também possui maneiras únicas de ser afetado pelos encontros de corpos. Cada corpo possui uma capacidade singular de afetar e de ser afetado. Todo corpo está sempre em relação. Nenhum corpo existe isolado de outros corpos. O corpo afeta e é afetado a todo momento: está sempre em relação com outros corpos. O corpo é afetado pelo oxigênio, pela luz, pelo som, que também são outros corpos. Cada corpo é, portanto, uma potência singular de afetar e ser afetado. Você consegue observar quais corpos te afetam e quais são afetados por você neste momento?
As afetações produzem os estados da vida. Se sua boca e seu sistema digestivo estão há um tempo sem se encontrar com um alimento nutritivo, o sentimento que te afeta é a fome. Se você comer um prato de comida, aquele encontro do seu corpo com os outros corpos da comida -arroz, feijão, proteínas e vegetais - também afetarão você, produzindo novos estados, sejam esses positivos - saciedade, satisfação ou negativos - enjoo, indigestão - a depender de como foi o encontro entre os corpos.
E após a refeição, os encontros continuam - seja com a família, com o trabalho, com o trânsito, com os estudos ou com uma soneca vespertina. Os encontros e as afetações seguem acontecendo e moldando nossos estados da vida. Será que isso significa que somos reféns desses encontros e acontecimentos? Pois parece que a todo momento posso me encontrar e me afetar de um trânsito parado, uma dívida no banco ou uma briga familiar... Se tudo me afeta a todo tempo, como posso garantir meu bem-estar?
Para Spinoza, um filósofo que viveu no século 17 e que é a principal referência desse texto, parte da tarefa é compreender que tudo acontece a partir de uma causa. Tudo tem motivo para acontecer, inclusive a sensação de bem-estar. Quando utilizamos de Spinoza para pensar as condições de vida atuais é na intenção de compreender que precisamos cultivar os bons encontros a fim de produzir boas afetações. E para isso é preciso se conhecer. É preciso conhecer quais são os encontros que produzem alegrias no corpo. É preciso conhecer o corpo para conhecer suas alegrias. E veja: corpo é mente. Mente é corpo e, para Spinoza, não se separam. E conhecendo a singularidade de cada corpo é possível descobrir como cultivar uma vida mais potente para si.
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